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Hiperconectados porém desconectados

  • carlasamoreira
  • 6 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Estar em contato com o outro, manter relacionamentos, participar de uma vida social hoje em dia parece que assumiu uma conotação bem diferente do que conhecíamos antes por encontro. Olhar o outro agora pode ser ligar a câmera do celular, falar com um amigo pode ser mandar mensagens por aplicativos e manter o contato é estar com as redes sociais atualizadas com fotos e descrições de sua rotina. 

O filósofo Byung-Chul Han fala do conceito de “sociedade do cansaço”, onde o ritmo acelerado da vida moderna, a busca por estar sempre conectado e a pressão por maior produtividade vem gerando grandes aumentos nos problemas emocionais. São muitas obrigações e expectativas associadas a um ciclo cada vez maior de trabalho gerando um estado crônico de exaustão. 

O cansaço não é apenas físico, mas também emocional. O excesso de estímulos, a hiperconectividade e a necessidade de estar sempre disponível resultam em um esgotamento mental que afeta não só a performance, mas também a qualidade de vida. A ansiedade e a depressão se tornaram companheiras frequentes nessa jornada, tornando-se sintomas de uma condição coletiva e não apenas individual.

A busca incessante por realização e sucesso exacerba a sensação de inadequação. As redes sociais criam um ambiente de comparação constante, onde o que vemos é apenas um recorte da vida perfeita  dos outros, uma vida frequentemente idealizada. Isso gera uma pressão ainda maior para que as  pessoas se sintam sempre ativas e produtivas, ignorando suas próprias limitações. O “outro critico” não está mais apenas dentro de casa, ele está em todo lugar, está constantemente ao alcance de um click.

Os problemas emocionais emergem como um grito silencioso em meio ao barulho da sociedade. A solidão, o estresse e o burnout são manifestações de uma cultura que não valoriza o descanso e a contemplação. Estar em constante movimento, produzir, criar, estudar e aumentar os ganhos passou a ser uma obrigação para todos e quem não está dentro desse ciclo é visto como menor, como inferior. 

Em meio a tamanha corrida pela produtividade algumas pessoas já começam a fazer o caminho inverso buscando um tempo maior para si mesmas, pensando sobre suas escolhas, saboreando sem pressa um almoço em família, tomando um café com amigos sem precisar postar nas redes sociais as fotos desse encontro, brincando com os filhos sem marcar a hora na agenda. Para algumas pessoas o olhar para dentro já é possível, para outras ainda é difícil e para todos é tão necessário. 

Reconhecer os sinais de cansaço e priorizar o autocuidado é um ato de resistência diante de uma sociedade que impõe a exaustão como norma. A transformação desse paradigma é essencial para que possamos viver de forma mais plena, integrando a produtividade com o bem-estar emocional.


 
 
 

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© 2024 por Carla Moreira, Psicanalista

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